sábado, 7 de dezembro de 2013

Utilização de piscinas


Dicotomia: Utilização de piscinas enquanto fator de promoção da saúde/ local onde são identificáveis perigos para a saúde

Caros leitores,
Na procedência da minha última publicação sobre Vigilância da Qualidade da Água em Piscinas, em que relatei todo o procedimento das colheitas realizadas, tanto microbiológica, como físico-química, assim como a referência à avaliação da qualidade da água, pretendo com esta publicação fazer uma correlação entre a importância das colheitas de água na promoção da saúde e os perigos para a saúde que podem advir da utilização das piscinas.

De acordo com o Instituto do Desporto de Portugal (2007), no Distrito de Lisboa existem 153 ginásios e 178 piscinas, devendo-se este número à crescente procura de espaços para a realização de atividade física. Mais recentemente, a oferta em matéria de instalações tem sido mais diversificada, existindo, no mesmo distrito, 30 estabelecimentos que comportam no mesmo complexo ginásio e piscina, partilhando balneários, vestiários e instalações sanitárias. Segundo o estudo realizado por Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa, verificou-se que a natação é a segunda modalidade mais praticada, representando 11% das modalidades praticadas e 4% da população em estudo. No mesmo estudo foi possível verificar que os maiores valores de participação desportiva se encontram nos aglomerados populacionais de maior dimensão como é o caso de Lisboa e que as infraestruturas mais necessárias, de acordo com os inquiridos, são os ginásios e as piscinas, justificando a crescente procura destes estabelecimentos.

Fig.1 - Piscina Coberta
Em Portugal a área per capita estritamente reservada à prática de atividades aquáticas situa-se abaixo da de países vizinhos, tais como Espanha e França. No entanto, o desenvolvimento recente na área das piscinas faz com que a disponibilização destes serviços atinja níveis de qualidade que igualam ou ultrapassam os de outros países europeus. Na verdade, nos últimos quarenta anos e no domínio das piscinas públicas (e em especial das municipais), o desenvolvimento foi notável.
Tem-se notado um interesse crescente relativamente aos potenciais efeitos nocivos para o trato respiratório resultantes de uma exposição repetida a produtos clorados (Uyan, 2009). Vários autores chamaram a atenção para os potenciais perigos para o epitélio respiratório dos sub-produtos da desinfeção em piscinas interiores mal ventiladas (Cotter e Ryan, 2009), referindo que a cloração pode afetar a saúde respiratória, quer de banhistas, quer do pessoal que trabalha na piscina, nomeadamente monitores e professores de natação, devendo esta problemática ser integrada na área da saúde ocupacional (Nemery et al., 2002). De acordo com Bougault et al. (2009), a prevalência de rinite atópica, asma e hiper-reactividade das vias respiratórias está aumentada em nadadores de alta competição comparativamente com a população em geral, podendo estes factos estarem relacionados com lesão do tecido epitelial das vias respiratórias e aumento da permeabilidade nasal e pulmonar provocados pela exposição aos sub-produtos da desinfeção com cloro em piscinas cobertas. Por outro lado, o potencial dos sub-produtos de desinfeção da água como causadores de asma em crianças pequenas tem sido explorado em trabalhos de investigação recentes (Weisel et al., 2009; Cotter e Ryan, 2009).
Mais estudos, em especial no caso da exposição infantil em piscinas cobertas e no desenvolvimento de asma, serão necessários para que seja possível uma melhor compreensão dos mecanismos relacionados com o desenvolvimento ou o agravamento de alterações respiratórias em nadadores, de forma a determinar como se poderá ajudar a prevenir o desenvolvimento da asma e otimizar a terapêutica (Weisel et al., 2009).
Concretamente no que se refere à qualidade da água, esta problemática não é uma realidade exclusivamente nacional – cita-se, a título de exemplo, um estudo realizado na Jordânia (Rabi et al., 2007), durante o Verão de 2005, no qual foram investigadas todas as piscinas públicas ativas (85 das 93 existentes) na capital do país, Amã, com o objetivo de verificar o grau de cumprimento das normas existentes. Nessas piscinas foram monitorizados parâmetros microbiológicos (recolha de duas amostras por piscina, em períodos de maior afluência de banhistas) e também parâmetros físico-químicos da qualidade da água que eram requeridos nas normas de qualidade nacionais. Os resultados obtidos indicaram, de uma maneira geral, uma fraca conformidade com os padrões de qualidade, nomeadamente: parâmetros microbiológicos (56,5%), cloro residual (49,4%), pH (87,7%), temperatura da água (48,8%), e carga de banhistas (70,6%). Os resultados obtidos também indiciaram uma deterioração da qualidade da água ao longo do tempo. Para além disso, uma análise multivariada (multifatorial) mostrou uma associação estatisticamente significativa entre a contaminação da água e a hora da colheita, o cloro residual, a temperatura da água e a carga de banhistas.


Já ouviram falar em “Pé de Atleta”?
Fig.2 - Pé de Atleta


Durante muitos anos fui frequentadora assídua dos balneários das piscinas e um dos meus maiores medos era apanhar o tal fungo. Felizmente nunca fui contagiada, mas de vez em quando alguém nos balneários queixava-se deste problema.
O nosso corpo é capaz de resistir a infeções fúngicas, mas ocasionalmente quando as condições são propícias os fungos desenvolvem-se e atacam a nossa pele, originando o pé de atleta. É mais frequente o contágio em locais como piscinas e balneários públicos, ou através do uso de toalhas mal lavadas ou contaminadas. 
Segundo um estudo realizado em dezasseis países europeus em 2003, denominado Achilles Project, 34,5% de 70,497 sujeitos tinham infeções fúngicas nos pés, sendo a Tinea pedis e a onicomicose as mais comuns. A Tinea pedis, vulgarmente conhecida como “pé de atleta” é a mais comum dermatomicose, podendo ser transmitida de forma direta, por contacto entre dois indivíduos, ou é indireta quando se faz através de objetos ou superfícies que foram contaminadas. Em relação à onicomicose, esta é diagnosticada geralmente associada a Tinea pedis ou pode ocorrer devido a traumatismo na unha durante, por exemplo, a atividade física. A forma de contágio de ambas as patologias poderá ocorrer através da exposição dos pés descalços a superfícies contaminadas.
A contaminação fúngica dos ambientes interiores poderá influenciar a infeção fúngica dos seus ocupantes, estando a mesma dependente de várias variáveis ambientais, nomeadamente: os aspetos construtivos, o sistema de ventilação e/ou ar condicionado e a sua operação, as condições do ambiente exterior, o número de ocupantes no espaço interior, bem como as atividades desenvolvidas (Wang, Chen e Zhang, 2001).
Segundo Carla Viegas, na sua Tese de Doutoramento em Saúde Pública – Exposição a fungos dos trabalhadores dos ginásios com piscinas - relativamente à comparação das concentrações encontradas no ambiente interior com o ambiente exterior, neste estudo, apenas nos balneários e vestiários masculinos do ginásio com piscina nº 2 e nos balneários e vestiários femininos do ginásio com piscina nº 6, a avaliação realizada no interior apresentou maior número de UFC/m3 do que no exterior. Nas restantes avaliações, todos os espaços interiores apresentaram menor número de UFC/m3 do que no exterior.
Fig.3 - Fungos Filamentosos isolados no ar interior e exterior de cada espaço monitorizado dos 10 estabelecimentos


A estes potenciais perigos em termos de Saúde Pública opõe-se uma lacuna em termos da legislação portuguesa, relativamente à contaminação fúngica em superfícies. Será necessário investigar, não só referenciais quantitativos, mas também sobre as espécies a valorizar nos diferentes contextos profissionais e também de lazer. É extremamente necessária a intervenção em Saúde Ocupacional no âmbito da vigilância ambiental e da vigilância da saúde, com o intuito de diminuir a prevalência das infeções fúngicas. Para a prossecução desse objetivo, sugere-se a implementação de medidas preventivas, nomeadamente: o controlo da contaminação fúngica das superfícies mediante procedimentos de lavagem e desinfeção eficazes, de modo a minimizar a contaminação fúngica das superfícies; a identificação precoce da infeção através da realização de colheitas biológicas periódicas aos trabalhadores, inseridas num protocolo de vigilância da saúde; e, ainda, a sensibilização para a aplicação de medidas de higiene pessoal e o tratamento das patologias que têm efeitos na saúde diversos. 

Até à próxima Publicação caros leitores!


FONTES:
- INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL (IDP) – Listagem de estabelecimentos licenciados para a actividade desportiva. Lisboa : IDP, 2007.

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