Dicotomia:
Utilização de piscinas enquanto fator de promoção da saúde/ local onde são
identificáveis perigos para a saúde
Caros leitores,
Na procedência da minha última publicação sobre Vigilância da Qualidade da Água em Piscinas, em que relatei todo o procedimento das colheitas realizadas, tanto microbiológica, como físico-química, assim como a referência à avaliação da qualidade da água, pretendo com esta publicação fazer uma correlação entre a importância das colheitas de água na promoção da saúde e os perigos para a saúde que podem advir da utilização das piscinas.
De acordo com o Instituto do Desporto de Portugal (2007), no Distrito de Lisboa existem 153 ginásios e 178 piscinas, devendo-se este número à crescente procura de espaços para a realização de atividade física. Mais recentemente, a oferta em matéria de instalações tem sido mais diversificada, existindo, no mesmo distrito, 30 estabelecimentos que comportam no mesmo complexo ginásio e piscina, partilhando balneários, vestiários e instalações sanitárias. Segundo o estudo realizado por Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa, verificou-se que a natação é a segunda modalidade mais praticada, representando 11% das modalidades praticadas e 4% da população em estudo. No mesmo estudo foi possível verificar que os maiores valores de participação desportiva se encontram nos aglomerados populacionais de maior dimensão como é o caso de Lisboa e que as infraestruturas mais necessárias, de acordo com os inquiridos, são os ginásios e as piscinas, justificando a crescente procura destes estabelecimentos.
Em
Portugal a área per capita estritamente reservada à prática de atividades
aquáticas situa-se abaixo da de países vizinhos, tais como Espanha e França. No
entanto, o desenvolvimento recente na área das piscinas faz com que a
disponibilização destes serviços atinja níveis de qualidade que igualam ou
ultrapassam os de outros países europeus. Na verdade, nos últimos quarenta anos
e no domínio das piscinas públicas (e em especial das municipais), o desenvolvimento
foi notável.
Tem-se
notado um interesse crescente relativamente aos potenciais efeitos nocivos para
o trato respiratório resultantes de uma exposição repetida a produtos clorados
(Uyan, 2009). Vários autores chamaram a atenção para os potenciais perigos para
o epitélio respiratório dos sub-produtos da desinfeção em piscinas interiores
mal ventiladas (Cotter e Ryan, 2009), referindo que a cloração pode afetar a
saúde respiratória, quer de banhistas, quer do pessoal que trabalha na piscina,
nomeadamente monitores e professores de natação, devendo esta problemática ser
integrada na área da saúde ocupacional (Nemery et al., 2002). De acordo com
Bougault et al. (2009), a prevalência de rinite atópica, asma e
hiper-reactividade das vias respiratórias está aumentada em nadadores de alta
competição comparativamente com a população em geral, podendo estes factos
estarem relacionados com lesão do tecido epitelial das vias respiratórias e
aumento da permeabilidade nasal e pulmonar provocados pela exposição aos
sub-produtos da desinfeção com cloro em piscinas cobertas. Por outro lado, o
potencial dos sub-produtos de desinfeção da água como causadores de asma em
crianças pequenas tem sido explorado em trabalhos de investigação recentes
(Weisel et al., 2009; Cotter e Ryan, 2009).
Mais
estudos, em especial no caso da exposição infantil em piscinas cobertas e no
desenvolvimento de asma, serão necessários para que seja possível uma melhor
compreensão dos mecanismos relacionados com o desenvolvimento ou o agravamento
de alterações respiratórias em nadadores, de forma a determinar como se poderá
ajudar a prevenir o desenvolvimento da asma e otimizar a terapêutica (Weisel et
al., 2009).
Concretamente
no que se refere à qualidade da água, esta problemática não é uma realidade
exclusivamente nacional – cita-se, a título de exemplo, um estudo realizado na
Jordânia (Rabi et al., 2007), durante o Verão de 2005, no qual foram
investigadas todas as piscinas públicas ativas (85 das 93 existentes) na
capital do país, Amã, com o objetivo de verificar o grau de cumprimento das
normas existentes. Nessas piscinas foram monitorizados parâmetros
microbiológicos (recolha de duas amostras por piscina, em períodos de maior
afluência de banhistas) e também parâmetros físico-químicos da qualidade da
água que eram requeridos nas normas de qualidade nacionais. Os resultados
obtidos indicaram, de uma maneira geral, uma fraca conformidade com os padrões
de qualidade, nomeadamente: parâmetros microbiológicos (56,5%), cloro residual
(49,4%), pH (87,7%), temperatura da água (48,8%), e carga de banhistas (70,6%).
Os resultados obtidos também indiciaram uma deterioração da qualidade da água
ao longo do tempo. Para além disso, uma análise multivariada (multifatorial)
mostrou uma associação estatisticamente significativa entre a contaminação da
água e a hora da colheita, o cloro residual, a temperatura da água e a carga de
banhistas.
Já
ouviram falar em “Pé de Atleta”?
Fig.2 - Pé de Atleta |
Durante muitos anos
fui frequentadora assídua dos balneários das piscinas e um dos meus maiores
medos era apanhar o tal fungo. Felizmente nunca fui contagiada, mas de vez em
quando alguém nos balneários queixava-se deste problema.
O nosso corpo é capaz
de resistir a infeções fúngicas, mas ocasionalmente quando as condições são
propícias os fungos desenvolvem-se e atacam a nossa pele, originando o pé de atleta.
É mais frequente o contágio em locais como piscinas e balneários públicos, ou
através do uso de toalhas mal lavadas ou contaminadas.
Segundo
um estudo realizado em dezasseis países europeus em 2003, denominado Achilles Project, 34,5% de 70,497
sujeitos tinham infeções fúngicas nos pés, sendo a Tinea pedis e a onicomicose
as mais comuns. A Tinea pedis, vulgarmente conhecida como “pé de atleta” é a
mais comum dermatomicose, podendo ser transmitida de forma direta, por contacto
entre dois indivíduos, ou é indireta quando se faz através de objetos ou
superfícies que foram contaminadas. Em relação à onicomicose, esta é
diagnosticada geralmente associada a Tinea pedis ou pode ocorrer devido a
traumatismo na unha durante, por exemplo, a atividade física. A forma de
contágio de ambas as patologias poderá ocorrer através da exposição dos pés
descalços a superfícies contaminadas.
A
contaminação fúngica dos ambientes interiores poderá influenciar a infeção
fúngica dos seus ocupantes, estando a mesma dependente de várias variáveis ambientais,
nomeadamente: os aspetos construtivos, o sistema de ventilação e/ou ar
condicionado e a sua operação, as condições do ambiente exterior, o número de
ocupantes no espaço interior, bem como as atividades desenvolvidas (Wang, Chen
e Zhang, 2001).
Segundo Carla Viegas, na sua
Tese de Doutoramento em Saúde Pública – Exposição
a fungos dos trabalhadores dos ginásios com piscinas - relativamente à comparação
das concentrações encontradas no ambiente interior com o ambiente exterior,
neste estudo, apenas nos balneários e vestiários masculinos do ginásio com
piscina nº 2 e nos balneários e vestiários femininos do ginásio com piscina nº
6, a avaliação realizada no interior apresentou maior número de UFC/m3 do que
no exterior. Nas restantes avaliações, todos os espaços interiores apresentaram
menor número de UFC/m3 do que no exterior.
Fig.3 - Fungos Filamentosos isolados no ar interior e exterior de cada espaço monitorizado dos 10 estabelecimentos |
A
estes potenciais perigos em termos de Saúde Pública opõe-se uma lacuna em
termos da legislação portuguesa, relativamente à contaminação fúngica em
superfícies. Será necessário investigar, não só referenciais quantitativos, mas
também sobre as espécies a valorizar nos diferentes contextos profissionais e
também de lazer. É extremamente necessária a intervenção em Saúde Ocupacional
no âmbito da vigilância ambiental e da vigilância da saúde, com o intuito de
diminuir a prevalência das infeções fúngicas. Para a prossecução desse objetivo,
sugere-se a implementação de medidas preventivas, nomeadamente: o controlo da
contaminação fúngica das superfícies mediante procedimentos de lavagem e
desinfeção eficazes, de modo a minimizar a contaminação fúngica das
superfícies; a identificação precoce da infeção através da realização de
colheitas biológicas periódicas aos trabalhadores, inseridas num protocolo de
vigilância da saúde; e, ainda, a sensibilização para a aplicação de medidas de
higiene pessoal e o tratamento das patologias que têm efeitos na saúde
diversos.
Até à próxima Publicação caros leitores!
FONTES:
- INSTITUTO DO DESPORTO DE
PORTUGAL (IDP) – Listagem de estabelecimentos licenciados para a actividade desportiva.
Lisboa : IDP, 2007.
- Tese de Mestrado em Saúde Pública. Mª João Silva Leite Carvalho Pedroso - "Exposição Ocupacional em Piscinas Cobertas do tipo I e II". Porto, 2009
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