quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Importância dos Manipuladores de Alimentos

Quando um estabelecimento fecha, qual é a sua reação?

Normalmente quando se fala em vigilância sanitária, uma das associações mais comuns é o encerramento de um estabelecimento pela ação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) ou pela Câmara Municipal – como por exemplo: talho, farmácia, restaurante ou padaria – devido às condições precárias de higiene, venda de produtos falsificados ou com data de validade vencida, entre outras coisas. No entanto, a atuação da vigilância sanitária abrange muitas outras atividades além da interdição de estabelecimentos que oferecem produtos ou serviços que possam colocar em risco a saúde da população. Por isso, a importância de se compreender um pouco mais sobre essa face da Saúde Pública, que desde épocas imemoriais busca encontrar caminhos para prevenir danos ou diminuir riscos provocados por problemas sanitários, desenvolvendo ações de proteção à saúde dos cidadãos.
Em termos históricos, as ações de vigilância sanitária estão presentes desde o advento da civilização. O controlo sobre o exercício da medicina, do meio ambiente, dos medicamentos e dos alimentos já faziam parte da rotina dos antigos, assim como a criação de leis e normas, com o intuito de disciplinar a vida na sociedade.

Ao longo do meu estágio realizei diversas vistorias a estabelecimentos de Restauração e Bebidas, no âmbito de um Programa de Vigilância Sanitária. Foi proposto também a realização de um Projeto de Ação de Formação para Manipuladores de Alimentos, que irá decorrer nas férias de Natal no Centro de Saúde de Sete Rios, para todos os manipuladores de alimentos das escolas abrangidas pelo Programa de Saúde Escolar. Face ao exposto, achei pertinente evidenciar mais a área da Segurança Alimentar, não só pelas atividades executadas no estágio, mas também porque é uma área que gosto bastante. Nunca é demais alertar para os perigos associados à manipulação de alimentos, o consumidor deve ter conhecimento, acesso e aceitar as informações sobre os riscos a que está exposto.
A modificação dos hábitos alimentos em sociedade, motivada em parte, pelas distâncias entre os empregados e a habitação leva por um lado, obrigatoriamente ou não, ao recurso à restauração e, por outro lado, à procura de produtos transformados (congelados, pré-cozinhados ou mesmo prontos a comer), obriga a uma maior responsabilização de todo o pessoal da indústria alimentar e restauração, em particular os manipuladores.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente mais de 30% dos habitantes dos países industrializados adoecem devido à ingestão de alimentos contaminados por microrganismos. Em Portugal, com uma população aproximada 11 milhões (censo e 2001), a estimativa é de aproximadamente 3 milhões e embora nem todos os casos sejam reportados ou requeiram assistência médica, acabam por ter algum impacto em termos económicos que em despesas diretas (devido à necessidade de assistência médica e aquisição de medicamentos), quer em despesas de outro tipo (perda de rendimento, falta de serviço, etc.).
A análise dos dados referentes aos locais de contaminação e aquisição/consumo, permite verificar que é  nos estabelecimentos de restauração coletivos que têm ocorrido o maior número de surtos e casos de toxinfeção alimentar. Apesar dos dados relativos a 2001-2005 indicarem um aumento dos casos relacionados com a ingestão de alimentos preparados/consumidos em casas particulares, a vigilância e o controlo nas referidas unidades não deve deixar de merecer a maior atenção por parte das entidades competentes e responsáveis.


São múltiplas as causas dos alimentos contaminados, sendo que de entre os fatores de risco para a ocorrência de infeção e toxinfeção alimentares, em contexto doméstico, destacam-se as práticas culturais, como o consumo de alimentos crus ou mal cozinhados, os baixos níveis dos padrões de higiene durante a preparação dos alimentos, assim como a falta de formação em segurança alimentar (OMS, 1999; Griffith, 2006).
Segundo dados revelados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, em 2009, as cozinhas domésticas assumem-se como o local onde a prevalência das doenças de origem alimentar é maior, não obstante os manipuladores de alimentos domésticos conhecerem os conceitos gerais de manipulação segura de alimentos.
É crescente o número de notificações das doenças de origem alimentar que se tornaram um problema de saúde pública, quer em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento (Griffith, 2000; Redmond e Griffith, 2003; Griffith, 2006, OMS, 2002). Estima-se que nos países industrializados, um em cada três indivíduos seja, anualmente, afetado por uma doença de origem alimentar (OMS, 2002). A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (European Food Safety Authority, EFSA - segundo a terminologia anglo-saxónica) e o Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (European Centre for Disease Prevention and Control, ECDC - segundo a terminologia anglo-saxónica), no seu último relatório, referente ao ano de 2009, reportou 5.500 surtos ocorridos nos 27 membros da União Europeia (UE), provocando 48.964 casos humanos, dos quais resultaram 4.356 hospitalizações e 46 mortes (EFSA, 2011a).
Apesar dos esforços realizados, verifica-se que as doenças de origem alimentar ainda causam hospitalizações e inclusive mortes. Segundo o mais recente relatório da EFSA (2011a), referente ao ano de 2009, a UE declarou 977 surtos, que envolveram 14.572 pessoas, de que resultaram 1.842 hospitalizações e 23 mortes.

Para minimizar este problema a OMS lançou, em 2001, o “Poster das Cinco Chaves para uma Alimentação Mais Segura”, baseado igualmente em mensagens simples e fáceis de memorizar, relativas aos comportamentos a adotar para uma manipulação higiénica e segura dos alimentos.

Um estudo, realizado no contexto de segurança alimentar em cozinhas domésticas, sugere Mullan e Wong(2010), que a norma subjetiva apresenta um efeito negativo na intenção em realizar comportamentos/práticas higiénicas na manipulação de carne ou peixe cru nas suas cozinhas. Ou seja, quanto maior for a pressão social sobre o inquirido para realizar determinado comportamento de higiene nas suas cozinhas menor será a sua intenção de realizá-lo. Isto deve-se ao facto dos manipuladores de alimentos não quererem alterar os comportamentos de higiene nas suas cozinhas por acreditarem que já realizam comportamentos corretos.
    Assim, a educação, formação e motivação de todos aqueles que manipulam os alimentos, quer na indústria, no comércio, na restauração ou nas nossas casas constituem valores indispensáveis a uma boa política de prevenção.
    A formação profissional inadequada de todas as pessoas envolvidas em atividades relacionadas com alimentos gera uma potencial ameaça à segurança dos alimentos e à sua adequação ao consumo, sendo assim este pré-requisito é reconhecido como um dos pilares de segurança alimentar em todos os processos e é uma ferramenta importante para assegurar uma aplicação efetiva de boas práticas de higiene.

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