segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Reflexão Final

Desvendar o que senti?
Destacar o que aprendi?
Será possível?
As experiências foram permitindo a segurança dos meus passos...
Os sentimentos permitiram-me ir mais além...
As teorias guiaram-me na escuridão do desconhecido...
Um estágio, um investimento, uma aprendizagem!
Só...?!
Paula Marques

Caros leitores,

Em todos os instantes das nossas vidas estamos sempre a aprender algo, de forma consciente ou inconsciente, formal ou informal, entretanto, gostaria de destacar um momento que contribuiu significativamente para a minha formação académica: o Estágio Curricular III.
Como sabem, este foi realizado no Centro de Saúde de Sete Rios, em Lisboa. O facto de estar numa cidade maravilhosa, tão extensa e com uma população em constante crescimento (segundo os censos de 2011, a região de Lisboa cresceu 6% entre 2001 e 2011 e é onde está concentrada 26,7% da população portuguesa), despertou-me bastante interesse em saber qual a vida do Técnico de Saúde Ambiental nesta cidade. 



“Portugal é Lisboa, o Resto é Paisagem”
Eça de Queirós 





Será possível transmitir um pouco do quão importante foi para mim a experiência de estágio? O crescimento que senti, a autonomia que consegui, a confiança que desenvolvi...As práticas que vi pautadas pelo desejo da conquista de uma identidade pessoal e profissional?!

Para Marcelo Bastos, "o estágio é a ponte entre a teórica e a prática". Considero esta fase fundamental no nosso desenvolvimento profissional e com repercussões e ensinamentos que, com certeza, levaremos para toda a nossa carreira profissional. 
Este estágio proporcionou-me a obtenção e o desenvolvimento de competências em diferentes áreas, designadamente: Segurança Alimentar; Águas; Saúde Escolar; Resíduos; entre outras. Permitiu-me ainda, tomar conhecimento das diferentes realidades e das dificuldades sentidas pelos profissionais de saúde, em especial os Técnicos de Saúde Ambiental, bem como uma partilha de conhecimentos, de experiências e de reflexão sobre diversos aspetos.
Chego ao fim desta etapa e constato que a dedicação que mostrei levou a uma significativa evolução ao longo deste percurso académico. Sinto-me muito feliz por saber que a Saúde Ambiental, de uma maneira ou de outra, faz parte da minha vida, sinto que esta é a profissão ao qual me identifico e não me arrependo de ter escolhido este curso, muito pelo contrário.

O estágio foi sem dúvida um momento de crescimento tanto profissional quanto pessoal e que só foi possível, pois não estive sozinha nesta caminhada. Resumo num trabalho muito produtivo e harmonioso ao lado da minha orientadora de estágio Drª. Helena Correia, onde tive a oportunidade de aprender muito com ela e com certeza também aprendemos juntas em espírito de parceria.
Posso dizer que adorei o estágio, contactei com pessoas extraordinárias e muito simpáticas, aprendi e realizei muitas atividades. Apesar de demorar cerca de 2 horas a chegar a casa e andar cansadíssima, o esforço foi muito compensatório, pois a área de Saúde Pública é muito vasta e diversificada, possibilitando a oportunidade de abranger várias áreas em dias distintos.
Apesar da situação atual do país e da dificuldade de empregabilidade nos serviços de saúde, tenho esperança que um dia esta realidade mude e venha a exercer a profissão de Técnica de Saúde Ambiental numa Unidade de Saúde Pública. 
Antes de me despedir, não posso deixar de fazer uma crítica construtiva, penso que o tempo de contacto é escasso, deveria ter duração de pelo menos 3 meses, pois ficaram muitos tópicos por desenvolver, muitas ideias por aprofundar e uma autonomia para crescer. Espero, no entanto, adquirir todas essas competências na minha vida profissional, não obstante este estágio foi o ponto de partida para esta longa caminhada.
É difícil de exprimir todas as emoções sentidas durante esta etapa, não há palavras que possam descrever tudo o que sentimos. Ficam as lembranças de dois meses memoráveis, ficam os conhecimentos adquiridos, e ficam as amizades criadas com todos os intervenientes deste processo.

                                                                                             “Se a nossa vida é provisória,
que seja linda e louca a nossa história,
pois o valor das coisas não está no tempo
que elas duram, mas na intensidade
com que acontecem. Por isso existem
momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Fernando Pessoa



Palavras Finais

As palavras finais são agradecimentos a todos aqueles que tornaram possível a concretização desta nova etapa da minha vida académica, 

  • Aos meus pais, irmão e avós, que desde sempre criaram as melhores condições para que eu pudesse atingir os meus objetivos;
  • À Drª. Helena Correia, que sempre me ajudou e proporcionou, a larga escala, inúmeras experiências e aprendizagens. Posso afirmar que ela foi a pessoa que mais me fez crescer ao longo deste estágio, pois sem ela nada disso seria possível. Obrigada pela disponibilidade, simpatia, paciência, amizade e confiança que depositou em mim. É uma TSA exemplar e uma pessoa extraordinária;
  • Prof. Raquel Rodrigues dos Santos, uma pessoa profissionalmente muito competente e acessível, disponível e comprometida com a minha aprendizagem, sendo um outro elo importantíssimo no meu percurso académico;
  • Drª. Regina Dias, Drª. Sílvia Duarte e Drª. Sofia Barata, pela simpatia, hospitalidade, paciência e amizade. Gostei imenso de as conhecer. Obrigada pelos desabafos, conversas, almoços e experiências. 

Obrigada a todos!!!
Foi sem dúvida uma etapa marcante no meu percurso académico, que certamente vai deixar SAUDADES!

“A vida é uma contínua e inacabada forma de aprendizagem”
Zeferino Rocha

sábado, 7 de dezembro de 2013

Unidades Privadas de Saúde (Clínicas/Consultórios Dentários)

“Consideram-se Clínicas ou Consultórios Dentários as unidades ou estabelecimentos de saúde privados que prossigam atividades de prevenção, diagnóstico e tratamento das anomalias e doenças dos dentes, boca, maxilares e estruturas anexas, independentemente da forma jurídica e da designação adotadas, no âmbito das competências legalmente atribuídas a cada um dos grupos profissionais envolvidos”. 

Portaria nº268/2010 de 12 de Maio


De acordo com a orientação da DGS 009/2001, o processo de licenciamento das unidades Privadas de Serviços de saúde (UPSS) foi, como se sabe, alterado.
Com a publicação do Decreto-Lei nº279/2009, de 6 de Outubro, é criado um regime de licenciamento simplificado para Clínicas e Consultórios Dentários, simplicidade que se evidencia pela licença emitida como recibo da informação validamente submetida (formulário Disponível no site da ERS ou da ARS respetiva). O legislador opta não por facilitar, como vinca, mas por responsabilizar os profissionais pelas declarações prestadas, sem prescindir de requisitos mínimos que são explicitados em normativo próprio. Essa vigilância pode, naturalmente, ocorrer a todo e qualquer momento, em conformidade com as atribuições asseguradas pelas autoridades de Saúde, previstas no DL nº82/2009, de 2 de Abril. A Vigilância Sanitária contribui para a melhoria da qualidade dos serviços prestados pelas Unidades Privadas de Serviços de Saúde, agora facilitada em função da definição e clarificação dos critérios aplicáveis.

Emerge deste cenário a responsabilidade na proteção da Saúde Pública, que se pretende ver reforçada. Assim, entende-se ser essencial a uniformização das intervenções efetuadas pelas Unidades de Saúde Pública nas clínicas e consultórios dentários existente nas áreas geográficas de influência dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES). Para o efeito, sugere-se a elaboração e desenvolvimento de projetos de intervenção específicos, capazes de assegurar a total cobertura dos estabelecimentos existentes área geográfica de influência de cada ACES. Tratando-se de estabelecimentos sujeitos a licenciamento, considera-se que a organização e realização de intervenções sistemáticas de vigilância deverão ser uma das prioridades das Unidades de Saúde Pública, sendo de prever a sua repetição periódica em intervalos de tempo necessariamente dependentes dos recursos disponíveis ou alocados para esse efeito. Trata-se de implementar ações normalizadas, suscetíveis de minimizar os riscos resultantes de indesejáveis más condições estruturais ou más práticas com origem nos estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saúde oral.
A Organização Mundial da Saúde aponta para 2020, metas para a saúde oral que exigem um reforço das ações de promoção da saúde e prevenção das doenças orais, e um maior envolvimento dos profissionais de saúde e de educação, dos serviços públicos e privados. 


Motorização da Esterilização

Todos os processos que envolvem a descontaminação do consultório odontológico devem ser os mais efetivos possíveis, capazes de prevenir ou diminuir o risco de infeções cruzadas. Assim é importante a implementação de um protocolo de limpeza, desinfeção e esterilização, a ser seguido adequadamente. Sabemos também que devido a grande variação nos tipos de materiais, e dos diversos tipos de equipamentos que envolvem este atendimento, muitas vezes o procedimento ideal nem sempre é conseguido.
A preocupação das pessoas em relação à transmissão de doenças nos serviços de saúde tem aumentado muito, e cada dia mais paciente fazem perguntas com referência ao controlo de infeções feito nos consultórios odontológicos e médicos. Os profissionais de saúde estão conscientes da importância de proporcionar biossegurança aos seus pacientes, a si próprio e à sua equipa.
A esterilização dos materiais é uma parte essencial do SISTEMA BEDA (B-barreiras, E-esterilização, D-desinfeção, A-anti-sepsia) de Controlo da Infeção, em qualquer ambiente: consultório, clínicas e laboratórios. Assim, um cuidado constante na esterilização é efetuar testes para verificar se os procedimentos de esterilização estão eficientes. Uma vez por semana, indicadores biológicos ou esporo-testes devem ser utilizados, junto com o material a ser esterilizado, para se estar seguro de que o procedimento foi correto.
Antes da desinfecção ou esterilização de qualquer tipo de material é fundamental que seja realizada uma adequada limpeza, para que resíduos de matéria orgânica que possam ficar presentes nos materiais não interfiram na qualidade dos processos de desinfecção e esterilização.


Resíduos Hospitalares em Unidades Privadas de Saúde

No seguimento da minha última publicação sobre Resíduos Hospitalares achei pertinente evidenciar um pouco a gestão de resíduos hospitalares em Unidades Privadas de Saúde. Em clínicas/consultórios dentários podem ser encontrados resíduos de diferentes tipos, tais como resíduos contaminados (algodão sujo de sangue, pús, saliva, guardanapos, luvas, máscaras, etc...), resíduos cortante e perfurante (agulhas, lâminas de bisturi, vidros contaminado e partidos, instrumentos cortantes, etc...), resíduos alimentares, resíduos secos e resíduos especiais para reaproveitamento (vidros, plásticos e latas não contaminados, papéis, caixas de papelão, invólucros de medicamentos ou materiais, etc..).
Os resíduos sólidos contaminados e não contaminados devem ser recolhidos pelo órgão municipal responsável, para seu adequado destino e reaproveitamento, ou por uma empresa certificada.
O ambiente de trabalho odontológico é um local de alto risco de contaminação. É importante o controlo das infeções através dos métodos de esterilização e desinfeção. Os equipamentos normalmente utilizados para a esterilização dos materiais são a estufa e a autoclave, porém em ambos os casos o ciclo de esterilização é longo e os equipamentos, além do elevado custo de aquisição, necessitam de manutenções periódicas e funcionam apenas quando ligados à rede elétrica.

Apesar de não haver ainda uma informação muito extensa, notou-se um aumento bastante significativo de Mapas de Registo de Resíduos Hospitalares recebidos, relativamente a anos anteriores.

Fig. 2 - Totais (ton./ano) da produção de Resíduos
 Hospitalares nas Unidades Privadas de Saúde. 
Fonte: Relatório Resíduos Hospitalares 2002



Quadro 1 – Produção de Resíduos Hospitalares por grupos (kg/ano)
das Unidades Privadas de Saúde.
Fonte: Relatório de Resíduos Hospitalares 2002

De acordo com a legislação atual, o funcionamento de certos tipos de estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saúde pressupõe a existência de licenciamento. No entanto, a informação obtida no âmbito do processo de registo na Entidade Reguladora da Saúde (ERS), permite constatar que a uma percentagem considerável de prestadores de cuidados de saúde sujeitos a licenciamento ainda não foi atribuída a respetiva licença. As razões para a circunstância descrita podem ter explicações diversas, desde atrasos na instrução dos pedidos de licenciamento, até à situação de ausência de uma comissão de verificação técnica (comissão com funções de vistoria e de inspeção), como é o caso do licenciamento das clínicas e consultórios dentários.

As unidades de saúde, públicas e privadas, têm neste momento todas as condições para desenvolver as suas capacidades e elaborar planos de gestão de resíduos versus gestão de risco, de forma a otimizar todo o circuito interno de resíduos – a gestão de riscos deve ser realizada transversalmente uma vez que ela concerne todos os setores e serviços das unidades de saúde.
Neste sentido, as Administrações e Direções das Unidades Prestadoras de Cuidados de Saúde e os respetivos serviços devem comprometer-se e dar um apoio consistente a este setor, que incentive a incorporação dos preceitos instituídos por via legislativa e normativa, adaptando as suas organizações, competências e Know-how aos preceitos da boa gestão.
Sem pretender transformar uma unidade de saúde em especialista de resíduos, é certo que a resolução dos problemas inerentes à eliminação dos resíduos hospitalares vai necessitar, à partida, de um esforço singular. Todavia, posteriormente vai traduzir-se em novos comportamentos reflexos: o fazer sem pensar.

Ao longo do meu estágio tive a oportunidade de vistoriar algumas Clínicas/Consultórios Dentários, ao qual gostei bastante, pois nunca tinha presenciado uma atividade deste género. Considero bastante importante o controlo da infeção nestes locais, pois, como são locais privados, por vezes podem sobrepor os seus interesses às necessidades dos clientes. Como a esterilização é considerada o “bastidor” dos consultórios dentários, os médicos, higienistas orais e auxiliares, por vezes fica um pouco descuidada. Cabe a estes profissionais garantir um serviço de qualidade aos clientes, e principalmente reduzir a possibilidade de ocorrência infeções. O Técnico de Saúde Ambiental, juntamente com a autoridade de saúde, deve então vistoriar periodicamente os locais que possuem focos de infeção, de modo a informar, formar e sensibilizar os profissionais destas áreas à adoção de boas práticas.

Para finalizar deixo-vos um vídeo ilustrativo do processo de esterilização de materiais odontológicos.

Resíduos Hospitalares



Caros leitores,
Como podem constatar ao longo de todas as publicações do meu blog, a Saúde Ambiental é um MUNDO!Ainda há muito por descobrir e fazer. Hoje trago-vos um tema um pouco diferente das minhas últimas publicações, é de extrema relevância no que diz respeito à atuação do Técnico de Saúde Ambiental, tendo a oportunidade de experiencia-la  durante o estágio, consistindo em auditorias às salas de tratamento e gabinetes médicos de Centros de Saúde, bem como vistorias a Clínicas e Consultórios Dentários e Lares de Idosos.

O termo “resíduos hospitalares”, adotado em Portugal, é apenas mais uma designação entre outras que existem e que são adotadas noutros países (ex: resíduos médicos, resíduos clínicos, resíduos de cuidados de saúde). O problema não está propriamente na designação, mas sim na sua classificação (diferentes categorias em que se dividem os RH) que também é diferente consoante o país. Não há uma classificação única, universalmente aceite, existem diversos sistemas de classificação para a caracterização dos RH, de acordo com a sua constituição (Mühlich et al., 2003). De acordo com Gonçalves (2005) a relação entre a classificação dos resíduos e a separação na fonte é cada vez mais indissociável na gestão de RH.
Fig.1 - Resíduos Hospitalares
Segundo Levy et al. (2002), a quantidade de resíduos hospitalares (RH) produzidos em Portugal, em condições normais, não representa um problema em termos de gestão, comparativamente com os outros tipos de resíduos, como sejam, os resíduos urbanos, os resíduos industriais e, até mesmo os resíduos provenientes da atividade agrícola.
Contudo, dada a sua natureza, diversidade, perigosidade e grau de risco, são necessários procedimentos específicos de manipulação e tratamentos diferenciados, que tornam a sua gestão complexa e onerosa.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem defendido que os RH são especiais, e que algumas categorias destes resíduos estão entre as mais perigosas, de todos os resíduos produzidos na comunidade, e podem ter consequências graves a nível da saúde pública e ambiente (Sawalem et al., 2009).
Apesar de nos últimos anos ter aumentado a preocupação pública com gestão dos RH, numa base mundial (Shinee et al., 2008), e ter sido desenvolvido um esforço significativo para uma gestão segura, na ausência de uma clara compreensão dos riscos de transmissão de doenças e os impactes para o ambiente associados, existem na maior parte das vezes práticas de gestão inadequadas.


Classificação dos Resíduos Hospitalares

A classificação em 4 Grupos tem “em conta os princípios que devem presidir a organização e gestão global dos resíduos, como sejam os riscos efetivos, a proteção dos trabalhadores do sector, a operacionalidade das diversas secções, os preceitos éticos e a perceção de risco pela opinião pública” (PERH, Despacho Conjunto n.º 761/99).
No Quadro 1 apresentam-se os Grupos de RH, a sua designação e tipo de tratamento final requerido, de acordo com a legislação vigente – Despacho nº242/96, de 13 de Agosto.
Quadro 1 - Classificação de Resíduos Hospitalares por grupos
(Despacho nº242/96, de 13 de Agosto)
Verifica-se uma evolução da produção total declarada de resíduos hospitalares, entre 1999 e 2005, do Serviço Nacional de Saúde (Hospitais, Centros de Saúde, Centros de Alcoologia, Centros de Histocompatibilidade e Laboratórios de Saúde Pública), cuja informação foi obtida através do tratamento dos dados dos Mapas de Registo da Produção de Resíduos Hospitalares remetidos à Direcção-Geral da Saúde ao abrigo da Portaria nº 320/2007, de 23 de Março.

Gráfico 1 - Evolução da produção de resíduos hospitalares 1999/2005

Portugal produz anualmente mais de 100 mil toneladas de resíduos hospitalares.
A situação em que se encontram as unidades de saúde em matéria de recolha e gestão de resíduos hospitalares é, em geral, "preocupante ou muito preocupante", concluiu a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) num estudo realizado em parceria com a Universidade do Minho.


Acondicionamento:

A triagem e o acondicionamento devem ter lugar junto do local de produção.

Fig.2 - Recipientes para
acondicionamento
de Resíduos Hospitalares
do Grupo III
  • Grupos I e II: Recipientes de cor preta.
  • Grupo III: Recipientes de cor branca com indicativo de risco biológico.
  • Grupo IV: Recipientes de cor vermelha com exceção dos materiais corto-perfurantes que deverão ser acondicionados em recipientes, contentores, imperfuráveis, estanques, mantendo-se hermeticamente fechados.


A sensibilização e formação de todos os profissionais envolvidos na produção e manipulação destes RH revelam-se fulcrais no alcance de uma boa gestão destes resíduos, nomeadamente nas fases de triagem e acondicionamento, e até na interiorização e concretização dos princípios fundamentais do Regime Geral de Gestão de Resíduos (Decreto-Lei n.º 178/2006 –Anexo I), tais como a redução de produção de resíduos na fonte e a correta gestão de stocks para a minimização de produção de resíduos.
Concluindo, seria vantajoso promover auditorias externas para avaliação da implementação dos planos de gestão de resíduos hospitalares, de modo a monitorizar a eficácia e qualidade do plano de gestão implementado, mas também, diagnosticar as necessidades de formação existentes por parte de todos s profissionais que manipulam este tipo de resíduos. Embora as medidas mais importantes e efetivas estejam relacionadas com a eliminação do risco (ex: efetiva separação na fonte), ou com a sua substituição por menor risco (ex: formação e sensibilização), na prática nem sempre são exequíveis. Desta forma, é necessário optar por outras medidas como o uso de equipamento de proteção de equipamentos de proteção individual (EPI) (Gonçalves, 2005).
Quadro 2 - Medidas de redução do risco de acordo
com a hierarquia de segurança (EA, 2002)

"Muito esforço terá que ser desenvolvido para que a meta dos 100 por cento de unidades com planos de gestão preconizada no PERH 2010-2016 [Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares elaborado pela Agência Portuguesa do Ambiente e pela Direcção-Geral da Saúde] seja alcançada".


FONTES:

Utilização de piscinas


Dicotomia: Utilização de piscinas enquanto fator de promoção da saúde/ local onde são identificáveis perigos para a saúde

Caros leitores,
Na procedência da minha última publicação sobre Vigilância da Qualidade da Água em Piscinas, em que relatei todo o procedimento das colheitas realizadas, tanto microbiológica, como físico-química, assim como a referência à avaliação da qualidade da água, pretendo com esta publicação fazer uma correlação entre a importância das colheitas de água na promoção da saúde e os perigos para a saúde que podem advir da utilização das piscinas.

De acordo com o Instituto do Desporto de Portugal (2007), no Distrito de Lisboa existem 153 ginásios e 178 piscinas, devendo-se este número à crescente procura de espaços para a realização de atividade física. Mais recentemente, a oferta em matéria de instalações tem sido mais diversificada, existindo, no mesmo distrito, 30 estabelecimentos que comportam no mesmo complexo ginásio e piscina, partilhando balneários, vestiários e instalações sanitárias. Segundo o estudo realizado por Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa, verificou-se que a natação é a segunda modalidade mais praticada, representando 11% das modalidades praticadas e 4% da população em estudo. No mesmo estudo foi possível verificar que os maiores valores de participação desportiva se encontram nos aglomerados populacionais de maior dimensão como é o caso de Lisboa e que as infraestruturas mais necessárias, de acordo com os inquiridos, são os ginásios e as piscinas, justificando a crescente procura destes estabelecimentos.

Fig.1 - Piscina Coberta
Em Portugal a área per capita estritamente reservada à prática de atividades aquáticas situa-se abaixo da de países vizinhos, tais como Espanha e França. No entanto, o desenvolvimento recente na área das piscinas faz com que a disponibilização destes serviços atinja níveis de qualidade que igualam ou ultrapassam os de outros países europeus. Na verdade, nos últimos quarenta anos e no domínio das piscinas públicas (e em especial das municipais), o desenvolvimento foi notável.
Tem-se notado um interesse crescente relativamente aos potenciais efeitos nocivos para o trato respiratório resultantes de uma exposição repetida a produtos clorados (Uyan, 2009). Vários autores chamaram a atenção para os potenciais perigos para o epitélio respiratório dos sub-produtos da desinfeção em piscinas interiores mal ventiladas (Cotter e Ryan, 2009), referindo que a cloração pode afetar a saúde respiratória, quer de banhistas, quer do pessoal que trabalha na piscina, nomeadamente monitores e professores de natação, devendo esta problemática ser integrada na área da saúde ocupacional (Nemery et al., 2002). De acordo com Bougault et al. (2009), a prevalência de rinite atópica, asma e hiper-reactividade das vias respiratórias está aumentada em nadadores de alta competição comparativamente com a população em geral, podendo estes factos estarem relacionados com lesão do tecido epitelial das vias respiratórias e aumento da permeabilidade nasal e pulmonar provocados pela exposição aos sub-produtos da desinfeção com cloro em piscinas cobertas. Por outro lado, o potencial dos sub-produtos de desinfeção da água como causadores de asma em crianças pequenas tem sido explorado em trabalhos de investigação recentes (Weisel et al., 2009; Cotter e Ryan, 2009).
Mais estudos, em especial no caso da exposição infantil em piscinas cobertas e no desenvolvimento de asma, serão necessários para que seja possível uma melhor compreensão dos mecanismos relacionados com o desenvolvimento ou o agravamento de alterações respiratórias em nadadores, de forma a determinar como se poderá ajudar a prevenir o desenvolvimento da asma e otimizar a terapêutica (Weisel et al., 2009).
Concretamente no que se refere à qualidade da água, esta problemática não é uma realidade exclusivamente nacional – cita-se, a título de exemplo, um estudo realizado na Jordânia (Rabi et al., 2007), durante o Verão de 2005, no qual foram investigadas todas as piscinas públicas ativas (85 das 93 existentes) na capital do país, Amã, com o objetivo de verificar o grau de cumprimento das normas existentes. Nessas piscinas foram monitorizados parâmetros microbiológicos (recolha de duas amostras por piscina, em períodos de maior afluência de banhistas) e também parâmetros físico-químicos da qualidade da água que eram requeridos nas normas de qualidade nacionais. Os resultados obtidos indicaram, de uma maneira geral, uma fraca conformidade com os padrões de qualidade, nomeadamente: parâmetros microbiológicos (56,5%), cloro residual (49,4%), pH (87,7%), temperatura da água (48,8%), e carga de banhistas (70,6%). Os resultados obtidos também indiciaram uma deterioração da qualidade da água ao longo do tempo. Para além disso, uma análise multivariada (multifatorial) mostrou uma associação estatisticamente significativa entre a contaminação da água e a hora da colheita, o cloro residual, a temperatura da água e a carga de banhistas.


Já ouviram falar em “Pé de Atleta”?
Fig.2 - Pé de Atleta


Durante muitos anos fui frequentadora assídua dos balneários das piscinas e um dos meus maiores medos era apanhar o tal fungo. Felizmente nunca fui contagiada, mas de vez em quando alguém nos balneários queixava-se deste problema.
O nosso corpo é capaz de resistir a infeções fúngicas, mas ocasionalmente quando as condições são propícias os fungos desenvolvem-se e atacam a nossa pele, originando o pé de atleta. É mais frequente o contágio em locais como piscinas e balneários públicos, ou através do uso de toalhas mal lavadas ou contaminadas. 
Segundo um estudo realizado em dezasseis países europeus em 2003, denominado Achilles Project, 34,5% de 70,497 sujeitos tinham infeções fúngicas nos pés, sendo a Tinea pedis e a onicomicose as mais comuns. A Tinea pedis, vulgarmente conhecida como “pé de atleta” é a mais comum dermatomicose, podendo ser transmitida de forma direta, por contacto entre dois indivíduos, ou é indireta quando se faz através de objetos ou superfícies que foram contaminadas. Em relação à onicomicose, esta é diagnosticada geralmente associada a Tinea pedis ou pode ocorrer devido a traumatismo na unha durante, por exemplo, a atividade física. A forma de contágio de ambas as patologias poderá ocorrer através da exposição dos pés descalços a superfícies contaminadas.
A contaminação fúngica dos ambientes interiores poderá influenciar a infeção fúngica dos seus ocupantes, estando a mesma dependente de várias variáveis ambientais, nomeadamente: os aspetos construtivos, o sistema de ventilação e/ou ar condicionado e a sua operação, as condições do ambiente exterior, o número de ocupantes no espaço interior, bem como as atividades desenvolvidas (Wang, Chen e Zhang, 2001).
Segundo Carla Viegas, na sua Tese de Doutoramento em Saúde Pública – Exposição a fungos dos trabalhadores dos ginásios com piscinas - relativamente à comparação das concentrações encontradas no ambiente interior com o ambiente exterior, neste estudo, apenas nos balneários e vestiários masculinos do ginásio com piscina nº 2 e nos balneários e vestiários femininos do ginásio com piscina nº 6, a avaliação realizada no interior apresentou maior número de UFC/m3 do que no exterior. Nas restantes avaliações, todos os espaços interiores apresentaram menor número de UFC/m3 do que no exterior.
Fig.3 - Fungos Filamentosos isolados no ar interior e exterior de cada espaço monitorizado dos 10 estabelecimentos


A estes potenciais perigos em termos de Saúde Pública opõe-se uma lacuna em termos da legislação portuguesa, relativamente à contaminação fúngica em superfícies. Será necessário investigar, não só referenciais quantitativos, mas também sobre as espécies a valorizar nos diferentes contextos profissionais e também de lazer. É extremamente necessária a intervenção em Saúde Ocupacional no âmbito da vigilância ambiental e da vigilância da saúde, com o intuito de diminuir a prevalência das infeções fúngicas. Para a prossecução desse objetivo, sugere-se a implementação de medidas preventivas, nomeadamente: o controlo da contaminação fúngica das superfícies mediante procedimentos de lavagem e desinfeção eficazes, de modo a minimizar a contaminação fúngica das superfícies; a identificação precoce da infeção através da realização de colheitas biológicas periódicas aos trabalhadores, inseridas num protocolo de vigilância da saúde; e, ainda, a sensibilização para a aplicação de medidas de higiene pessoal e o tratamento das patologias que têm efeitos na saúde diversos. 

Até à próxima Publicação caros leitores!


FONTES:
- INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL (IDP) – Listagem de estabelecimentos licenciados para a actividade desportiva. Lisboa : IDP, 2007.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Importância dos Manipuladores de Alimentos

Quando um estabelecimento fecha, qual é a sua reação?

Normalmente quando se fala em vigilância sanitária, uma das associações mais comuns é o encerramento de um estabelecimento pela ação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) ou pela Câmara Municipal – como por exemplo: talho, farmácia, restaurante ou padaria – devido às condições precárias de higiene, venda de produtos falsificados ou com data de validade vencida, entre outras coisas. No entanto, a atuação da vigilância sanitária abrange muitas outras atividades além da interdição de estabelecimentos que oferecem produtos ou serviços que possam colocar em risco a saúde da população. Por isso, a importância de se compreender um pouco mais sobre essa face da Saúde Pública, que desde épocas imemoriais busca encontrar caminhos para prevenir danos ou diminuir riscos provocados por problemas sanitários, desenvolvendo ações de proteção à saúde dos cidadãos.
Em termos históricos, as ações de vigilância sanitária estão presentes desde o advento da civilização. O controlo sobre o exercício da medicina, do meio ambiente, dos medicamentos e dos alimentos já faziam parte da rotina dos antigos, assim como a criação de leis e normas, com o intuito de disciplinar a vida na sociedade.

Ao longo do meu estágio realizei diversas vistorias a estabelecimentos de Restauração e Bebidas, no âmbito de um Programa de Vigilância Sanitária. Foi proposto também a realização de um Projeto de Ação de Formação para Manipuladores de Alimentos, que irá decorrer nas férias de Natal no Centro de Saúde de Sete Rios, para todos os manipuladores de alimentos das escolas abrangidas pelo Programa de Saúde Escolar. Face ao exposto, achei pertinente evidenciar mais a área da Segurança Alimentar, não só pelas atividades executadas no estágio, mas também porque é uma área que gosto bastante. Nunca é demais alertar para os perigos associados à manipulação de alimentos, o consumidor deve ter conhecimento, acesso e aceitar as informações sobre os riscos a que está exposto.
A modificação dos hábitos alimentos em sociedade, motivada em parte, pelas distâncias entre os empregados e a habitação leva por um lado, obrigatoriamente ou não, ao recurso à restauração e, por outro lado, à procura de produtos transformados (congelados, pré-cozinhados ou mesmo prontos a comer), obriga a uma maior responsabilização de todo o pessoal da indústria alimentar e restauração, em particular os manipuladores.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente mais de 30% dos habitantes dos países industrializados adoecem devido à ingestão de alimentos contaminados por microrganismos. Em Portugal, com uma população aproximada 11 milhões (censo e 2001), a estimativa é de aproximadamente 3 milhões e embora nem todos os casos sejam reportados ou requeiram assistência médica, acabam por ter algum impacto em termos económicos que em despesas diretas (devido à necessidade de assistência médica e aquisição de medicamentos), quer em despesas de outro tipo (perda de rendimento, falta de serviço, etc.).
A análise dos dados referentes aos locais de contaminação e aquisição/consumo, permite verificar que é  nos estabelecimentos de restauração coletivos que têm ocorrido o maior número de surtos e casos de toxinfeção alimentar. Apesar dos dados relativos a 2001-2005 indicarem um aumento dos casos relacionados com a ingestão de alimentos preparados/consumidos em casas particulares, a vigilância e o controlo nas referidas unidades não deve deixar de merecer a maior atenção por parte das entidades competentes e responsáveis.


São múltiplas as causas dos alimentos contaminados, sendo que de entre os fatores de risco para a ocorrência de infeção e toxinfeção alimentares, em contexto doméstico, destacam-se as práticas culturais, como o consumo de alimentos crus ou mal cozinhados, os baixos níveis dos padrões de higiene durante a preparação dos alimentos, assim como a falta de formação em segurança alimentar (OMS, 1999; Griffith, 2006).
Segundo dados revelados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, em 2009, as cozinhas domésticas assumem-se como o local onde a prevalência das doenças de origem alimentar é maior, não obstante os manipuladores de alimentos domésticos conhecerem os conceitos gerais de manipulação segura de alimentos.
É crescente o número de notificações das doenças de origem alimentar que se tornaram um problema de saúde pública, quer em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento (Griffith, 2000; Redmond e Griffith, 2003; Griffith, 2006, OMS, 2002). Estima-se que nos países industrializados, um em cada três indivíduos seja, anualmente, afetado por uma doença de origem alimentar (OMS, 2002). A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (European Food Safety Authority, EFSA - segundo a terminologia anglo-saxónica) e o Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (European Centre for Disease Prevention and Control, ECDC - segundo a terminologia anglo-saxónica), no seu último relatório, referente ao ano de 2009, reportou 5.500 surtos ocorridos nos 27 membros da União Europeia (UE), provocando 48.964 casos humanos, dos quais resultaram 4.356 hospitalizações e 46 mortes (EFSA, 2011a).
Apesar dos esforços realizados, verifica-se que as doenças de origem alimentar ainda causam hospitalizações e inclusive mortes. Segundo o mais recente relatório da EFSA (2011a), referente ao ano de 2009, a UE declarou 977 surtos, que envolveram 14.572 pessoas, de que resultaram 1.842 hospitalizações e 23 mortes.

Para minimizar este problema a OMS lançou, em 2001, o “Poster das Cinco Chaves para uma Alimentação Mais Segura”, baseado igualmente em mensagens simples e fáceis de memorizar, relativas aos comportamentos a adotar para uma manipulação higiénica e segura dos alimentos.

Um estudo, realizado no contexto de segurança alimentar em cozinhas domésticas, sugere Mullan e Wong(2010), que a norma subjetiva apresenta um efeito negativo na intenção em realizar comportamentos/práticas higiénicas na manipulação de carne ou peixe cru nas suas cozinhas. Ou seja, quanto maior for a pressão social sobre o inquirido para realizar determinado comportamento de higiene nas suas cozinhas menor será a sua intenção de realizá-lo. Isto deve-se ao facto dos manipuladores de alimentos não quererem alterar os comportamentos de higiene nas suas cozinhas por acreditarem que já realizam comportamentos corretos.
    Assim, a educação, formação e motivação de todos aqueles que manipulam os alimentos, quer na indústria, no comércio, na restauração ou nas nossas casas constituem valores indispensáveis a uma boa política de prevenção.
    A formação profissional inadequada de todas as pessoas envolvidas em atividades relacionadas com alimentos gera uma potencial ameaça à segurança dos alimentos e à sua adequação ao consumo, sendo assim este pré-requisito é reconhecido como um dos pilares de segurança alimentar em todos os processos e é uma ferramenta importante para assegurar uma aplicação efetiva de boas práticas de higiene.