segunda-feira, 9 de junho de 2014

Movimentação Manual de Cargas

Caros Leitores,

            Esta etapa está quase a terminar, mas antes disso gostaria de referenciar um tema que a meu ver é bastante pertinente para todos nós e tem sido evidenciado ao longo de todo o estágio. O tema que publico hoje é sobre movimentação manual de cargas. Cada um de nós já realizou esta tarefa, ou em contexto laboral, ou no nosso dia-a-dia.
A movimentação manual de cargas é a principal causa de problemas da coluna lombar relacionados com o trabalho, sendo que em algumas profissões é uma tarefa frequente e difícil de evitar. As lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) decorrentes de mobilizações manuais de cargas constituem uma importante sobrecarga para a sociedade, organizações e para os próprios trabalhadores, em matéria de saúde ocupacional. Ilustram um problema de saúde ocupacional atual que é transversal a vários países e setores profissionais, representando a principal causa de dor, sofrimento e incapacidade em todo o mundo.1
Fig. 1 - Caricatura sobre Movimentação Manual de Cargas 9
Segundo a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, a taxa de trabalhadores da União Europeia que afirma transportar ou deslocar cargas elevadas é de 34,5%. Os custos estimados das lesões músculo-esqueléticas dos membros superiores ligadas ao trabalho (LMEMSRT) são de 0.5%-2% do produto interno bruto de cada país europeu. 2 Em particular, no Reino Unido, os custos associados às lesões por mobilização manual de cargas são estimados em 2 biliões de libras por ano. 3
As lesões músculo-esqueléticas abrangem um grande conjunto de situações inflamatórias e degenerativas, que afetam estruturas orgânicas como os músculos, as articulações, os tendões, os ligamentos, os nervos e os ossos. Caracterizam-se por uma sintomatologia que engloba frequentemente dor (localizada ou irradiada), parestesias, sensação de peso, fadiga ou desconforto localizados a determinado segmento corporal e sensação de perda de força. 4 Implicam elevados custos económicos e grande impacto na qualidade de vida do indivíduo sendo o seu diagnóstico um processo complexo. 5
A dor é o sintoma mais frequente nas lesões músculo-esqueléticas e representa o indicador mais comum de perdas em saúde, pois é assumido ser o precursor de uma doença mais severa. 6 Este problema de Saúde Pública destaca-se pelo facto de ser frequente e afetar uma grande parte da população em idade ativa, conduzindo ao absentismo laboral e significativa diminuição de produtividade e da qualidade de vida. 
A mobilização manual de cargas é descrita como uma atividade que requer a utilização de força exercida pelo individuo para levantar, baixar, empurrar, puxar, carregar, mover, manter ou restringir. Se não for executada em segurança existe um elevado risco de lesão, sobretudo ao nível da coluna lombar, particularmente nas vertebras da coluna lombar. 8


União Europeia
O Relatório Estatístico sobre o Trabalho e Segurança na União Europeia (1994-2002) demonstra que o desempenho profissional diário de 33% da população ativa da União Europeia obriga à adoção de posturas “penosas” e cansativas pelo menos durante metade do período de trabalho. Do mesmo modo, 23% manipula manualmente cargas pesadas, 46% está sujeito a movimentos repetitivos, 31% executa trabalho repetitivo e igual percentagem usa o computador como suporte do seu trabalho, pelo menos metade do seu horário de expediente. Dados recolhidos no Segundo Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho, efetuado em 1996, pela fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, relativamente à prevalência de problemas de saúde relacionados com as perturbações músculo-esqueléticas nos Estados Membros com maior predominância de trabalhadores que sofrem dores nas costas e nos membros superiores e inferiores, com respetivamente 39% e 31%. 9


Portugal
Em Portugal e segundo o Inquérito de Avaliação das Condições de Trabalho dos Trabalhadores Portugueses (Dezembro de 1999 e Janeiro de 2000), 44,5% das queixas relacionadas com o esforço físico durante a execução do trabalho prende-se com o facto de permanecerem muito tempo de pé de modo estático, enquanto que 18,9% efetua deslocações a pé de longa duração, 20,5% assume a adoção de postura penosas e fatigantes por longos períodos de tempo e 18,9% afirma desempenhar tarefas repetitivas e monótonas no seu contexto de trabalho. Neste sentido, os esforços físicos, sobretudo os movimentos do corpo que provocam lesões internas e externas, são apontados pelos trabalhadores como a principal causa da sinistralidade de que foram vítimas.
Os “gestos ou as posturas incorretas”, bem como a “movimentação manual de cargas” constituem-se como as categorias de risco profissionais mais citadas pelos sinistrados nos dados apresentados no Estado sobre a Sinistralidade em Portugal desenvolvido em 1998 pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, a primeira categoria surge classificada como o principal fator de risco no setor dos “serviços” e a segunda na “construção”. 9
 
Quadro 1 - Exemplo de medidas a adotar para cada movimentação de cargas.
Para terminar, como medidas para atenuar este problema é a implementação de avaliação ergonómica das situações de trabalho que irá permitir as decisões adequadas a cada local de trabalho, tendo em conta o trabalho real e as características dos trabalhadores. A formação contínua não deve deixar de existir, de modo a reciclar conhecimentos e manter concordância com a técnica recomendada.
Para uma melhor familarização sobre esta temática deixo-vos um link promocional da ACT "Alivie a Carga!" para a prevenção de lombalgias no setor de cuidados de saúde: http://www.act.gov.pt/(pt-PT)/Itens/Livraria/Documents/Prevencao_das_lombalgias_no_sector_dos_cuidados_de_saude.pdf
Deixo-vos também um vídeo do nosso amigo Napo sobre Movimentação Manual de Cargas, espero que gostem! 10

Referências Bibliográficas:
1 - MCDERMOTT, H., [et al.] – Investigation of manual handling training practices in organisations and beliefs regarding effectiveness. International Journal of Industrial Ergonomics. ISSN 0169-8141. Vol. 42: nº 2 (2012).
2 - SCHNEIDER, S.; LIPINSKI, S.; SCHILTENWOLF, M. – Occupations associated with a high risk of self-reported back pain: representative outcomes of a back pain prevalence study in the Federal Republic of Germany. European Spine Journal. (2010).
3 - CLEMES, S.; HASLAM, C.; HASLAM, R. – What constitutes effective manual handling training? A systematic review. Occupacional Medicine (London). ISSN 0962-7480. Vol. 60: nº 2 (2010).
4 - FONSECA, R.; SERRANHEIRA, F. – Sintomatologia musculoesquelética auto-referida por enfermeiros em meio hospitalar. Revista Portuguesa de Saúde Pública. Vol 6 (2006).
5 - SERRANHEIRA, F.; LOPES, F.; UVA, A.; – Lesões musculo-esqueléticas e trabalho: uma associação muito frequente. Sociedade Portuguesa de Medicina no Trabalho. Vol. 1, n.º 3 (2004).
6 - BENARD, B – Musculoskeletal disorders and workplace factors: a critical review of epidemiologic evidence for work-related musculoskeletal disorders of neck, upper extremity, and low back. Cincinnati, OH: National Institute for Occupational Safety and Health, 1997.
7 - CARRIVICK, P.; LEE, A.; YAU, K. – Consultative team to assess manual handling and reduce the risk of occupational injury. Occupational and environmental medicine. ISSN 1470-7926. Vol. 58: nº 5 (2001).
8 - HOOZEMANS, M., [et al.] – Pushing and pulling in relation to musculoskeletal disorders: a review of risk factors. Ergonomics. ISSN 0014-0139. Vol. 41: nº 6 (1998).

9- Relatório elaborado no âmbito do Estudo “Programa de apoio à manutenção e retorno ao trabalho das vítimas de doenças profissionais e acidentes de trabalho”, promovido pelo CRPG-Centro de Reabilitação Profissional de Gaia.

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