Caros
Leitores,
Esta etapa está quase a terminar, mas
antes disso gostaria de referenciar um tema que a meu ver é bastante pertinente
para todos nós e tem sido evidenciado ao longo de todo o estágio. O tema que
publico hoje é sobre movimentação manual de cargas. Cada um de nós já realizou
esta tarefa, ou em contexto laboral, ou no nosso dia-a-dia.
A movimentação manual de cargas é a principal
causa de problemas da coluna lombar relacionados com o trabalho, sendo que em
algumas profissões é uma tarefa frequente e difícil de evitar. As lesões
músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) decorrentes de mobilizações
manuais de cargas constituem uma importante sobrecarga para a sociedade,
organizações e para os próprios trabalhadores, em matéria de saúde ocupacional.
Ilustram um problema de saúde ocupacional atual que é transversal a vários
países e setores profissionais, representando a principal causa de dor,
sofrimento e incapacidade em todo o mundo.1
Fig. 1 - Caricatura sobre Movimentação Manual de Cargas 9 |
Segundo a Agência Europeia para a Segurança e
Saúde no Trabalho, a taxa de trabalhadores da União Europeia que afirma
transportar ou deslocar cargas elevadas é de 34,5%. Os custos estimados das
lesões músculo-esqueléticas dos membros superiores ligadas ao trabalho
(LMEMSRT) são de 0.5%-2% do produto interno bruto de cada país europeu. 2
Em particular, no Reino Unido, os custos associados às lesões por mobilização
manual de cargas são estimados em 2 biliões de libras por ano. 3
As lesões músculo-esqueléticas abrangem um
grande conjunto de situações inflamatórias e degenerativas, que afetam
estruturas orgânicas como os músculos, as articulações, os tendões, os
ligamentos, os nervos e os ossos. Caracterizam-se por uma sintomatologia que
engloba frequentemente dor (localizada ou irradiada), parestesias, sensação de
peso, fadiga ou desconforto localizados a determinado segmento corporal e
sensação de perda de força. 4 Implicam elevados custos económicos e
grande impacto na qualidade de vida do indivíduo sendo o seu diagnóstico um
processo complexo. 5
A dor é o sintoma mais frequente nas lesões
músculo-esqueléticas e representa o indicador mais comum de perdas em saúde,
pois é assumido ser o precursor de uma doença mais severa. 6 Este
problema de Saúde Pública destaca-se pelo facto de ser frequente e afetar uma
grande parte da população em idade ativa, conduzindo ao absentismo laboral e
significativa diminuição de produtividade e da qualidade de vida.
A mobilização manual de cargas é descrita
como uma atividade que requer a utilização de força exercida pelo individuo
para levantar, baixar, empurrar, puxar, carregar, mover, manter ou restringir.
Se não for executada em segurança existe um elevado risco de lesão, sobretudo
ao nível da coluna lombar, particularmente nas vertebras da coluna lombar. 8
União Europeia
O Relatório Estatístico sobre o Trabalho e
Segurança na União Europeia (1994-2002) demonstra que o desempenho profissional
diário de 33% da população ativa da União Europeia obriga à adoção de posturas
“penosas” e cansativas pelo menos durante metade do período de trabalho. Do
mesmo modo, 23% manipula manualmente cargas pesadas, 46% está sujeito a
movimentos repetitivos, 31% executa trabalho repetitivo e igual percentagem usa
o computador como suporte do seu trabalho, pelo menos metade do seu horário de
expediente. Dados recolhidos no Segundo Inquérito Europeu sobre as Condições de
Trabalho, efetuado em 1996, pela fundação Europeia para a Melhoria das
Condições de Vida e de Trabalho, relativamente à prevalência de problemas de
saúde relacionados com as perturbações músculo-esqueléticas nos Estados Membros
com maior predominância de trabalhadores que sofrem dores nas costas e nos
membros superiores e inferiores, com respetivamente 39% e 31%. 9
Portugal
Em Portugal e segundo o Inquérito de
Avaliação das Condições de Trabalho dos Trabalhadores Portugueses (Dezembro de
1999 e Janeiro de 2000), 44,5% das queixas relacionadas com o esforço físico
durante a execução do trabalho prende-se com o facto de permanecerem muito tempo
de pé de modo estático, enquanto que 18,9% efetua deslocações a pé de longa
duração, 20,5% assume a adoção de postura penosas e fatigantes por longos
períodos de tempo e 18,9% afirma desempenhar tarefas repetitivas e monótonas no
seu contexto de trabalho. Neste sentido, os esforços físicos, sobretudo os movimentos
do corpo que provocam lesões internas e externas, são apontados pelos
trabalhadores como a principal causa da sinistralidade de que foram vítimas.
Os “gestos ou as posturas incorretas”, bem
como a “movimentação manual de cargas” constituem-se como as categorias de
risco profissionais mais citadas pelos sinistrados nos dados apresentados no
Estado sobre a Sinistralidade em Portugal desenvolvido em 1998 pelo
Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade, a primeira categoria surge
classificada como o principal fator de risco no setor dos “serviços” e a
segunda na “construção”. 9
Para
terminar, como medidas para atenuar este problema é a implementação de avaliação ergonómica
das situações de trabalho que irá permitir as decisões adequadas a cada local
de trabalho, tendo em conta o trabalho real e as características dos
trabalhadores. A
formação contínua não deve deixar de existir, de modo a reciclar conhecimentos
e manter concordância com a técnica recomendada.
Para uma melhor familarização sobre esta temática deixo-vos um link promocional da ACT "Alivie a Carga!" para a prevenção de lombalgias no setor de cuidados de saúde: http://www.act.gov.pt/(pt-PT)/Itens/Livraria/Documents/Prevencao_das_lombalgias_no_sector_dos_cuidados_de_saude.pdf
Deixo-vos também um vídeo do nosso amigo Napo sobre Movimentação Manual de Cargas, espero que gostem! 10
Referências Bibliográficas:
1 - MCDERMOTT, H., [et al.] – Investigation of manual handling training practices in organisations and beliefs regarding effectiveness. International Journal of Industrial Ergonomics. ISSN 0169-8141. Vol. 42: nº 2 (2012).
2 - SCHNEIDER, S.; LIPINSKI, S.; SCHILTENWOLF, M. – Occupations associated with a high risk of self-reported back pain: representative outcomes of a back pain prevalence study in the Federal Republic of Germany. European Spine Journal. (2010).
3 - CLEMES, S.; HASLAM, C.; HASLAM, R. – What constitutes effective manual handling training? A systematic review. Occupacional Medicine (London). ISSN 0962-7480. Vol. 60: nº 2 (2010).
4 - FONSECA, R.; SERRANHEIRA, F. – Sintomatologia musculoesquelética auto-referida por enfermeiros em meio hospitalar. Revista Portuguesa de Saúde Pública. Vol 6 (2006).
5 - SERRANHEIRA, F.; LOPES, F.; UVA, A.; – Lesões musculo-esqueléticas e trabalho: uma associação muito frequente. Sociedade Portuguesa de Medicina no Trabalho. Vol. 1, n.º 3 (2004).
6 - BENARD, B – Musculoskeletal disorders and workplace factors: a critical review of epidemiologic evidence for work-related musculoskeletal disorders of neck, upper extremity, and low back. Cincinnati, OH: National Institute for Occupational Safety and Health, 1997.
7 - CARRIVICK, P.; LEE, A.; YAU, K. – Consultative team to assess manual handling and reduce the risk of occupational injury. Occupational and environmental medicine. ISSN 1470-7926. Vol. 58: nº 5 (2001).
8
- HOOZEMANS, M., [et al.] – Pushing and pulling in relation to musculoskeletal disorders: a review of risk factors. Ergonomics. ISSN 0014-0139. Vol. 41: nº 6 (1998).
9-
Relatório elaborado no âmbito do Estudo “Programa de apoio à manutenção
e retorno ao trabalho das vítimas de doenças profissionais e acidentes de
trabalho”, promovido pelo CRPG-Centro de Reabilitação Profissional de Gaia.
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