“A
Ergonomia consiste na aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto
com as ciências de engenharia, para alcançar a adaptação do Homem com o seu
trabalho medindo-se os seus efeitos em torno da eficiência e do bem-estar para
o homem.”
Organização Internacional do Trabalho
(OIT) 1
Caros
leitores,
Nas
minhas últimas publicações, principalmente na do “Risco” fiz referência às
várias classificações dos riscos ocupacionais, distribuídos por grupos e cores
distintas. No entanto achei pertinente abordar um risco em concreto: Riscos
Ergonómicos.
Já todos ouvimos falar sobre
ergonomia mas será que sabemos, exatamente, do que se trata? Na verdade, a
maioria das pessoas acha que a ergonomia está relacionada com a maneira como
nos sentamos ou com a forma como foram desenhados os controlos e instrumentos
que dispomos nos nossos automóveis. O que, de facto, é verdade (IEHF, 2001).2
No entanto, a
ergonomia é muito mais do que isso. Hoje em dia, os princípios de ergonomia
estão presentes em todas as atividades humanas, desde o trabalho, desporto,
lazer, até às áreas da saúde e segurança (IEHF, 2001).2
Fig. 1 - Abordagem Ergonómica do trabalho. |
O aumento da produtividade,
a diminuição dos acidentes de trabalho e a baixa do absentismo por doenças
profissionais, são objetivos perseguidos por todos os empreendedores que se querem
manter na corrida e vencer a concorrência.
Regressando às origens, a
palavra Ergonomia significa etimologicamente “ciência do trabalho”. Deriva de
duas palavras gregas nomeadamente ergon que significa trabalho e nomos
que significa leis, regras. A palavra Ergonomia nasceu de uma necessidade
que existia para exprimir o estudo científico do homem e do seu trabalho.
Várias definições podem
definir o termo Ergonomia, porém a mesma como um todo integra o conhecimento
das ciências humanas para adaptar ao trabalho, sistemas, produtos e ambientes
as capacidades físicas e psíquicas, e as limitações de cada pessoa. O seu principal
objetivo é a melhoria destas condições de trabalho, proporcionando bem-estar ao
trabalhador, evitando o risco (saúde física e psicológica), no entanto tem como
objetivo fundamental não só uma atividade agradável como também produtiva.
(LIDA, 1990). 3
A ergonomia é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental
das interações entre os seres humanos e os outros componentes de um sistema, e
a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos como o objetivo de
otimizar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. (IEA,
2011).4 Esta disciplina tem como
objetivo a promoção da segurança e saúde dos operadores, assim como para
potenciar a eficácia dos sistemas em que estes se encontram envolvidos (Rebelo,
2004). 5
Com a meta de melhorar a
segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho, a ergonomia consagra-se ao
projeto de equipamentos, máquinas, tarefas e sistemas, visando a adequação do
homem ao seu posto de trabalho.
Essa trajetória é feita
estudando vários fatores tais como: ambientais (ruídos, vibrações, iluminação,
clima, agentes químicos...), de informação (informações captadas pela visão,
audição ou outros sentidos), a postura e os movimentos corporais (em pé,
sentado, empurrando, puxando ou levantando pesos...), cargos e tarefas.
A junção de vários fatores
(postura e movimentos corporais, fatores ambientais, informação, controlos,
relação entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas) permite
projetar ambientes seguros, confortáveis e saudáveis. (DUL; WEERDMEESTER,
1995). 6
Ao termos em consideração
todos estes aspetos o resultado esperado será um aumento da eficácia, da
produtividade, da saúde, da segurança, da motivação e uma diminuição das
falhas, dos acidentes de trabalho, do stress e a longo prazo das doenças profissionais.
A Ergonomia revela-se assim de extrema importância para a empresa na medida em
que pode evitar custos desnecessários que se podem tornar elevados.
A figura 1 mostra os
diversos fatores que podem influir no desempenho do sistema produtivo (IIDA,
2005) 7,
através dos quais é possível compreender, de forma conexa, as implicações em
termos de consequências do trabalho.
Fig.2 - Diversos fatores que influenciam o processo produtivo. |
A legislação comunitária sobre SHST (Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho) atribuiu à Ergonomia um lugar operacional na prevenção, desde que foram transportas para o Direito Interno Nacional algumas das Diretivas Comunitárias. Assim, podemos recordar que desde 1991 a Ergonomia entrou no Código do Trabalho na medida em que o Decreto-Lei nº 441/91 afirmava a necessidade de adaptar o trabalho ao homem, em particular na conceção dos postos de trabalho, na escolha dos equipamentos e na conceção dos processos e dos métodos de trabalho. 8
A ergonomia atua nos seguintes domínios de
especialização (IIDA, 2005)7:
• Ergonomia
Física:
direciona-se à postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos
repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de
postos de trabalho, segurança e saúde do trabalhador;
• Ergonomia
Cognitiva: diz
respeito aos processos mentais, como a perceção, memória, raciocínio e resposta
motora, relacionados com as interações entre as pessoas e outros elementos de
um sistema;
• Ergonomia
Organizacional: abrange as
estruturas organizacionais, políticas e processos, como a comunicação, a
programação do trabalho em grupo, cultura organizacional, organizações em rede e
gestão da qualidade. Iida (2005) 7 afirma que “modernamente, a ergonomia ampliou
o intuito de atuação, incluindo os fatores organizacionais, pois muitas
decisões que afetam o trabalho são tomadas ao nível da organização.”
Riscos Ergonómicos
Os principais riscos capazes de
originar alterações do sistema músculo-esquelético a que os trabalhadores estão
expostos são:
·
Trabalho
monótono/repetitivo;
Fig. 4 - Riscos capazes de originar alterações músculo-esqueléticas. 9 |
·
Movimentação
Manual de Cargas;
·
Trabalho
com equipamento dotado de visor;
·
Posições
incorretas;
·
Esforços/Movimentos
bruscos;
·
Disposição
incorreta dos componentes do posto de trabalho;
·
Inadequado
mobiliário de trabalho;
·
Desadequação
dos equipamentos de trabalho;
·
Outros
agentes da atividade de trabalho.
Incidência
dos Fatores de Riscos Ergonómicos
O relatório sobre o
Trabalho e Segurança na União Europeia (1994-2002)10 demonstra que o desempenho
profissional diário de 33% da população ativa da União Europeia obriga à adoção
de posturas “penosas” e cansativas pelo que durante metade do período de
trabalho. Do mesmo, modo, 23% manipula manualmente cargas pesadas, 46% está
sujeito a movimentos repetitivos, 31% executa trabalho repetitivo e igual
percentagem usa o computador como suporte do seu trabalho, pelo menos metade do
seu horário de expediente. De acordo com um inquérito europeu realizado aquando
da Semana Europeia de 2000 sobre o tema Prevenção das Perturbações de Origem
Profissional, os fatores de risco anteriormente enunciados eram apontados como
responsáveis por 30% de dores dorso-lombares e 17% de dores musculares nos
braços e pernas nos trabalhadores do Espaço Europeu.
Dados recolhidos no
Segundo Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho, efetuado em 1996,
pela fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho,
relativamente à prevalência de problemas de saúde relacionados com as
perturbações músculo-esqueléticas nos Estados Membros com maior predominância
de trabalhadores que sofrem dores nas costas e nos membros superiores e
inferiores, com respectivamente 39% e 31%.
Gráfico 1 - Distribuição percentual de trabalhadores segundo as condições físicas do exercício de atividade |
As queixas mais comuns relacionadas com o
esforço físico despendido durante a execução do trabalho são, permanecer muito
tempo em pé (44.5%), manter outras posturas de trabalho penosas ou fatigantes (20.5%), efetuar deslocações a pé frequentes
ou de longa duração (18.9%) e executar tarefas repetitivas e monótonas (18.9%).
Neste sentido, os esforços
físicos, sobretudo os movimentos do corpo que provocam lesões internas e
externas, são apontados pelos trabalhadores como a principal causa da sinistralidade
de que foram vítimas.10
Os “gestos ou as posturas incorretas”,
bem como a “movimentação manual de cargas” constituem-se como as categorias de
risco profissionais mais citadas pelos sinistrados nos dados apresentados no
Estudo sobre a Sinistralidade em Portugal desenvolvido em 1998 pelo
Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade, a primeira categoria surge
classificada como o principal fator de risco no sector dos “serviços” e a
segunda na “construção”.
Referências Bibliográficas:
- OrganizaçãoInternacional do Trabalho: Ergonomia
- Institute of Ergonomics & HumanFactors. (2001). What is ergonomics?
- LIDA, Itiro – Ergonomia: projecto e produção. 2ª ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, Lda., 1990.
- International Ergonomics Association. (2011). Definition of Ergonomics.
- REBELO, F. (2004). Ergonomia no dia-a-dia. (1ª Edição). Lisboa: Edições Sílabo, LDA.
- DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard – Ergonomia Prática. São Paulo: Editora Edgard Blcher, 1995.
- IIDA, I. (2005). Ergonomia Projeto e Produção. 2.ª ed. São Paulo: Edgard Blücher.
- Diário da República Eletrónico (DRE): Decreto-Lei nº441/91, de 14 de Novembro.
- Figura 4:Riscos capazes de originar alterações músculo-esqueléticas
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