segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ergonomia

“A Ergonomia consiste na aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto com as ciências de engenharia, para alcançar a adaptação do Homem com o seu trabalho medindo-se os seus efeitos em torno da eficiência e do bem-estar para o homem.”
Organização Internacional do Trabalho (OIT) 1


Caros leitores,
       
        Nas minhas últimas publicações, principalmente na do “Risco” fiz referência às várias classificações dos riscos ocupacionais, distribuídos por grupos e cores distintas. No entanto achei pertinente abordar um risco em concreto: Riscos Ergonómicos.
Já todos ouvimos falar sobre ergonomia mas será que sabemos, exatamente, do que se trata? Na verdade, a maioria das pessoas acha que a ergonomia está relacionada com a maneira como nos sentamos ou com a forma como foram desenhados os controlos e instrumentos que dispomos nos nossos automóveis. O que, de facto, é verdade (IEHF, 2001).2

No entanto, a ergonomia é muito mais do que isso. Hoje em dia, os princípios de ergonomia estão presentes em todas as atividades humanas, desde o trabalho, desporto, lazer, até às áreas da saúde e segurança (IEHF, 2001).2 
Fig. 1 - Abordagem Ergonómica do trabalho.
 A relação dos trabalhadores com o seu ambiente de trabalho torna-se cada vez mais importante, neste tempo de mudança e de competitividade.
O aumento da produtividade, a diminuição dos acidentes de trabalho e a baixa do absentismo por doenças profissionais, são objetivos perseguidos por todos os empreendedores que se querem manter na corrida e vencer a concorrência.
Regressando às origens, a palavra Ergonomia significa etimologicamente “ciência do trabalho”. Deriva de duas palavras gregas nomeadamente ergon que significa trabalho e nomos que significa leis, regras. A palavra Ergonomia nasceu de uma necessidade que existia para exprimir o estudo científico do homem e do seu trabalho.
Várias definições podem definir o termo Ergonomia, porém a mesma como um todo integra o conhecimento das ciências humanas para adaptar ao trabalho, sistemas, produtos e ambientes as capacidades físicas e psíquicas, e as limitações de cada pessoa. O seu principal objetivo é a melhoria destas condições de trabalho, proporcionando bem-estar ao trabalhador, evitando o risco (saúde física e psicológica), no entanto tem como objetivo fundamental não só uma atividade agradável como também produtiva. (LIDA, 1990). 3
A ergonomia é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e os outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos como o objetivo de otimizar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. (IEA, 2011).4 Esta disciplina tem como objetivo a promoção da segurança e saúde dos operadores, assim como para potenciar a eficácia dos sistemas em que estes se encontram envolvidos (Rebelo, 2004). 5
Com a meta de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho, a ergonomia consagra-se ao projeto de equipamentos, máquinas, tarefas e sistemas, visando a adequação do homem ao seu posto de trabalho.
Essa trajetória é feita estudando vários fatores tais como: ambientais (ruídos, vibrações, iluminação, clima, agentes químicos...), de informação (informações captadas pela visão, audição ou outros sentidos), a postura e os movimentos corporais (em pé, sentado, empurrando, puxando ou levantando pesos...), cargos e tarefas.
A junção de vários fatores (postura e movimentos corporais, fatores ambientais, informação, controlos, relação entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas) permite projetar ambientes seguros, confortáveis e saudáveis. (DUL; WEERDMEESTER, 1995). 6
Ao termos em consideração todos estes aspetos o resultado esperado será um aumento da eficácia, da produtividade, da saúde, da segurança, da motivação e uma diminuição das falhas, dos acidentes de trabalho, do stress e a longo prazo das doenças profissionais. A Ergonomia revela-se assim de extrema importância para a empresa na medida em que pode evitar custos desnecessários que se podem tornar elevados.
A figura 1 mostra os diversos fatores que podem influir no desempenho do sistema produtivo (IIDA, 2005) 7, através dos quais é possível compreender, de forma conexa, as implicações em termos de consequências do trabalho.
Fig.2 - Diversos fatores que influenciam o processo produtivo.
A legislação comunitária sobre SHST (Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho) atribuiu à Ergonomia um lugar operacional na prevenção, desde que foram transportas para o Direito Interno Nacional algumas das Diretivas Comunitárias. Assim, podemos recordar que desde 1991 a Ergonomia entrou no Código do Trabalho na medida em que o Decreto-Lei nº 441/91 afirmava a necessidade de adaptar o trabalho ao homem, em particular na conceção dos postos de trabalho, na escolha dos equipamentos e na conceção dos processos e dos métodos de trabalho. 8
A ergonomia atua nos seguintes domínios de especialização (IIDA, 2005)7:
Ergonomia Física: direciona-se à postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurança e saúde do trabalhador;

Ergonomia Cognitiva: diz respeito aos processos mentais, como a perceção, memória, raciocínio e resposta motora, relacionados com as interações entre as pessoas e outros elementos de um sistema;
Ergonomia Organizacional: abrange as estruturas organizacionais, políticas e processos, como a comunicação, a programação do trabalho em grupo, cultura organizacional, organizações em rede e gestão da qualidade. Iida (2005) 7 afirma que “modernamente, a ergonomia ampliou o intuito de atuação, incluindo os fatores organizacionais, pois muitas decisões que afetam o trabalho são tomadas ao nível da organização.”

Riscos Ergonómicos

Os principais riscos capazes de originar alterações do sistema músculo-esquelético a que os trabalhadores estão expostos são:
·         Trabalho monótono/repetitivo;
Fig. 4 - Riscos capazes de originar
 alterações músculo-esqueléticas. 
9
·         Movimentação Manual de Cargas;
·         Trabalho com equipamento dotado de visor;
·         Posições incorretas;
·         Esforços/Movimentos bruscos;
·         Disposição incorreta dos componentes do posto de trabalho;
·         Inadequado mobiliário de trabalho;
·         Desadequação dos equipamentos de trabalho;
·         Outros agentes da atividade de trabalho. 


Incidência dos Fatores de Riscos Ergonómicos

O relatório sobre o Trabalho e Segurança na União Europeia (1994-2002)10 demonstra que o desempenho profissional diário de 33% da população ativa da União Europeia obriga à adoção de posturas “penosas” e cansativas pelo que durante metade do período de trabalho. Do mesmo, modo, 23% manipula manualmente cargas pesadas, 46% está sujeito a movimentos repetitivos, 31% executa trabalho repetitivo e igual percentagem usa o computador como suporte do seu trabalho, pelo menos metade do seu horário de expediente. De acordo com um inquérito europeu realizado aquando da Semana Europeia de 2000 sobre o tema Prevenção das Perturbações de Origem Profissional, os fatores de risco anteriormente enunciados eram apontados como responsáveis por 30% de dores dorso-lombares e 17% de dores musculares nos braços e pernas nos trabalhadores do Espaço Europeu.
Dados recolhidos no Segundo Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho, efetuado em 1996, pela fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, relativamente à prevalência de problemas de saúde relacionados com as perturbações músculo-esqueléticas nos Estados Membros com maior predominância de trabalhadores que sofrem dores nas costas e nos membros superiores e inferiores, com respectivamente 39% e 31%.
Gráfico 1 - Distribuição percentual de trabalhadores segundo
as condições físicas do exercício de atividade

As queixas mais comuns relacionadas com o esforço físico despendido durante a execução do trabalho são, permanecer muito tempo em pé (44.5%), manter outras posturas de trabalho penosas ou fatigantes (20.5%), efetuar deslocações a pé frequentes ou de longa duração (18.9%) e executar tarefas repetitivas e monótonas (18.9%).
Neste sentido, os esforços físicos, sobretudo os movimentos do corpo que provocam lesões internas e externas, são apontados pelos trabalhadores como a principal causa da sinistralidade de que foram vítimas.10

Os “gestos ou as posturas incorretas”, bem como a “movimentação manual de cargas” constituem-se como as categorias de risco profissionais mais citadas pelos sinistrados nos dados apresentados no Estudo sobre a Sinistralidade em Portugal desenvolvido em 1998 pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, a primeira categoria surge classificada como o principal fator de risco no sector dos “serviços” e a segunda na “construção”.

Referências Bibliográficas:
  1. OrganizaçãoInternacional do Trabalho: Ergonomia
  2. Institute of Ergonomics & HumanFactors. (2001). What is ergonomics?
  3. LIDA, Itiro – Ergonomia: projecto e produção. 2ª ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, Lda., 1990.
  4. International Ergonomics Association. (2011). Definition of Ergonomics. 
  5. REBELO, F. (2004). Ergonomia no dia-a-dia. (1ª Edição). Lisboa: Edições Sílabo, LDA.
  6. DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard – Ergonomia Prática. São Paulo: Editora Edgard Blcher, 1995.
  7. IIDA, I. (2005). Ergonomia Projeto e Produção. 2.ª ed. São Paulo: Edgard Blücher.
  8. Diário da República Eletrónico (DRE): Decreto-Lei nº441/91, de 14 de Novembro
  9. Figura 4:Riscos capazes de originar alterações músculo-esqueléticas

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