segunda-feira, 5 de maio de 2014

Iluminação em Administrativos

Caros leitores,
Na procedência de diversas vistorias realizadas em estabelecimentos de caráter administrativo, nomeadamente escritórios, achei pertinente abordar um tema bastante importante para o ambiente laboral, tendo como característica a quantidade de luminosidade disponível para o exercício das atividades profissionais.
Segundo Grandjean (1984) “o trabalho de escritório dispõe de uma grande variabilidade de tarefas: visualização de documentos, leitura de textos, comunicação com os colegas, trabalho em computador e outras, ao longo do dia de trabalho. Esta variabilidade de tarefas diminui a ocorrência de situações de desconforto”.1

A iluminância é uma grandeza expressa em lux (lx) que indica o fluxo luminoso de uma fonte de luz que incide sobre uma superfície situada a certa distância desta fonte. Em termos práticos, trata-se da quantidade de luz dentro de um ambiente, e pode ser medida com o auxílio de um aparelho denominado luxímetro (BURINI, 2001). 2
Fig.1 - Luxímetro (Aparelho medidor do nível de iluminação num local de trabalho)
A iluminação adequada e as características luminosas do meio envolvente do posto de trabalho de escritório são condições fundamentais para o bom desempenho das tarefas visuais, isentas de fadiga visual. As condições de iluminação devem contribuir para a sensação de bem-estar e estimular a motivação no trabalho (FGL, 2000). 3
Numa vistoria realizada a um escritório tive a oportunidade de fazer as medições dos valores de iluminação (lux) por cada posto de trabalho. As medições foram realizadas numa manhã com céu nublado, o que pode afetar os valores supramencionados. Independentemente deste aspeto, o organismo humano é diferente de indivíduo para indivíduo e as condições ótimas de trabalho podem ser entendidas de maneiras diferentes. Tenho constatado em conversa com diversos trabalhadores que apesar da deficiente iluminação existente nos postos de trabalho, estes não sentem necessidade de reforçar a iluminação, o que muitas vezes é explicado pelo fato do trabalhador se adaptar ao local de trabalho, o qual deveria ser precisamente o contrário. Segue um quadro com a apresentação dos resultados obtidos do escritório vistoriado:

Posto de Trabalho/Nome Colaborador
Tarefa
Valor Obtido (Lux)
Valor Mínimo Recomendado (Lux)
A.    Posto 1
Trabalho com Equipamento Dotado de Visor/Leitura e escrita de documentos.
399
500
B. Posto 2
343
C. Posto 3
311
D. Posto 4
Leitura e escrita de documentos
365
300

Uma iluminação insuficiente interfere nos níveis de desempenho do indivíduo em decorrência da diminuição do ritmo de trabalho, numa menor percepção de detalhes, aumento de erros ao executar determinados trabalhos e elevação dos índices de acidentes do trabalho (TAVARES, 2006). 4 Num local de trabalho onde há uma iluminação inadequada (com sombras ou ofuscamentos) é exigido um esforço maior da visão do indivíduo. Os efeitos imediatos que poderão ocorrer dessa agressão à visão são a fadiga visual e as cefaleias (dores de cabeça). Se o indivíduo permanecer nesse ambiente desfavorável, com o passar dos anos, a prática do trabalho irá ocasionar a diminuição da sua capacidade visual (REGIS FILHO e SELL, 2000). 5
O nível da iluminância recomendado para uma dada tarefa diz respeito à quantidade de luz que se considera necessária à boa execução dessa tarefa, regulamentada pelo diploma aplicável: ISO 8995:2002 “Lighting of indoor work places” e normas europeias EN 12464 (2002), DIN 5035 (1990).6
 Segundo Godoy (2005), esta abordagem prioriza a uniformidade e iluminâncias corretas nos planos de trabalho.7 A iluminância mantida das áreas do entorno/vizinhança imediata deve ser mais baixa que a iluminância da área da tarefa, porém, não deve ser inferior aos valores estabelecidos na Tabela seguinte:
Tabela 1 - Valores recomendados para cada zona







A iluminação mínima a fornecer a um plano de trabalho depende das características da tarefa visual (Vilar, 1996)8:
- contraste necessário (diferenciando os objetos das superfícies vizinhas);
- tamanho do objeto e nível do detalhe;
- velocidade de perceção do detalhe;
- qualidade da perceção;
- tempo de execução da tarefa.
O valor recomendado para o nível de iluminação de um dado local é função da exigência visual da tarefa, de fatores psicológicos e físicos dos indivíduos (idade, saúde visual) e fatores económicos, garantindo os gastos mínimos necessários na iluminação dos espaços de trabalho.

Fig. 2 - Estudo sobre iluminação em ambiente de escritório (Fonte: FGL, 2000) 3
1- Metade dos respondentes satisfeitos com níveis de iluminância de 500 lux ou mais
2 - A maioria dos respondentes prefere valores entre 1000 e 3000 lux.
Muitos estudos indicam que pessoas que trabalham constantemente com os computadores reportam mais problemas relacionados com a visão, do que os trabalhadores que desempenham atividades de escritório sem computador. Alguns investigadores (Collins et al, 1991; Smith et al, 1981; Yamamoto, 1987) têm indicado que esses sintomas visuais ocorrem em 75 a 90% dos indivíduos que trabalham com computadores. 9
A Síndrome de Visão de Computador (SVC), ou “Computer Vision Syndrome” (CVS), surge devido ao esforço visual exigido no trabalho com computador, por tempo prolongado, e é caracterizada pela ocorrência de uma série de sintomas em simultâneo, relacionados com o desconforto ou cansaço visual (Anshel, 2005). 10
A causa destes sintomas está, segundo o autor acima referido, relacionada com a combinação de fatores externos, como por exemplo, falta de iluminação, iluminação mal localizada, mau posicionamento do ecrã do computador, e de fatores internos, relacionados com problemas oculares preexistentes.
Tabela 2 - Distribuição (%) de sinais e sintomas de SVC, referidos pelos respondentes, em 3 gamas de iluminância média referidas na área da tarefa.
Observou-se na tabela acima que os maiores níveis de referência de sinais e sintomas de desconforto visual e de SVC foram quando os valores de luminância se encontravam nas gamas de iluminância inferiores, o que revela que a falta de iluminação suficiente para a execução das tarefas de escritório provoca desconforto visual. As condições de iluminação condicionam a perceção e a sensação do trabalhador face ao conforto visual, que se traduz em fadiga visual, stress, esforço físico, desmotivação (Veitch et al, 2008). 11
É muito importante, por isso, identificar e avaliar as situações de trabalho anómalas, para que se possam corrigir, com vista à melhoria das condições de trabalho e à prevenção de riscos para a saúde humana. Uma iluminação adequada é uma condição imprescindível para a obtenção de um bom ambiente de trabalho. A inobservância desta premissa resulta em consequências, as quais podem ser mais ou menos gravosas, tais como: danos visuais, menor produtividade e aumento dos acidentes de trabalho (Sajfert, Besic, Damnjanovic, Musicki, & Borko, 2012).12

Até à próxima publicação!!!

Referências Bibliográficas:
1 - Grandjean, E. (1984). Ergonomics and health in modern offices. London: Taylor and Francis.
2 - BURINI JUNIOR, Elvo Calixto. Visibility and Energy Savings in Lighting. Trabalho apresentado ao IESNA Annual Conference, Ottawa, Canadá, 2001.
3 - FGL (2000). Good Ligthing for offices and office buildings, Frankfurt: Fordergemeinshaft Gutes Litch.
4 - TAVARES, José da Cunha Tópicos de administração aplicada à segurança do trabalho. 5ª ed.rev. e ampl. – São Paulo: Editora Senac, São Paulo, 2006.
5 - REGIS FILHO, G. I.; SELL, Ingeborg. Síndrome da Má-Adaptação ao Trabalho em Turnos - Uma Abordagem Ergonómica. Itajaí/SC: Editora da Universidade do Vale do Itajaí, 2000.
7 - GODOY VIERA, S. D.; VIERA G, A ; FIALHO, F. A.P . Ergonomic Work Analysis in a Small Company, Manufacturer of Tubular Furniture, Placed in Santa Catarina Research. In: In: IEA 2000/HFES 2000 Congress, 2000, 2000, California. In: IEA 2000/HFES 2000 Congress, 2000.
8 - Vilar, J. (1996). XXXVI Curso de Medicina do Trabalho – Noções Gerais de Higiene do Trabalho. Lisboa, Escola de Nacional de Saúde Pública.
9 - Collins, C.; Brown; B., Bowman; K., Caird, D. (1991) Task variables and visual discomfort associated with the use of computers. Optometry and  Visual Science.
10 - Anshel, J. (2005).Windows to the World. In J. Anshel (Ed.), Visual
Ergonomics Handbook (pp. 1-4). Boca Raton: CRC Press.
11 - Veitch, J (2001). Psichological Processes Influencing Lighting Quality.
Journal Illuminating Engineering.
12 - Sajfert, Z., Besic, C., Damnjanovic, A., Musicki, S., & Borko, P. (2012). The research of lighting's influence on the psychological state of employees in working environment. Health MED.

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